Promover os tratamentos minimamente invasivos

Contando com um corpo clínico em constante crescimento, a UMICSUnidade Minimamente Invasiva de Cirurgia, tem vindo a introduzir, em Portugal, procedimentos cirúrgicos menos agressivos para o paciente, com evidentes vantagens para a sua recuperação e bem-estar.

Fazendo jus à sua designação, a UMICS (Unit for Minimal Invasive Cardiothoracic and Vascular Surgery) corresponde a um organismo conceptualizado pelo cirurgião cardiotorácico Javier Gallego, tendo em vista a utilização de procedimentos minimamente invasivos na resposta a um heterogéneo conjunto de patologias. Englobando atualmente as especialidades de Cardiologia de Intervenção, Cirurgia Cardíaca, Cirurgia Torácica e Cirurgia Vascular, a Unidade tem procurado demonstrar que há outros tratamentos muitas vezes mais eficientes do que os tradicionais que nem sempre são oferecidos ao paciente, por desconhecimento de todas as opções (que aqui são possíveis). De facto, “na nossa rotina, já nos deparámos com pacientes que não sabiam que esta abordagem estava disponível tão perto deles”.

Desde a sua fundação, em 2014, que a UMICS promove as diversas mais-valias subjacentes à adoção destas mesmas técnicas em contexto de diagnóstico e tratamento. Elencam-se, neste âmbito, não apenas “a rápida recuperação” e um pós-operatório caracterizado pormenos dores”, mas também benefícios como “o menor uso de hêmoderivâdos”, uma “reduzida taxa de infeções” e “melhores efeitos estéticos” no corpo do paciente sendo que a cicatriz é de menor dimensão comparada com a cirurgia clássica.

“Na prática, o que procuramos fazer é aplicar os bons resultados que os procedimentos cirúrgicos por via clássica trazem, mas através de uma abordagem minimamente invasiva”, esclarece o nosso interlocutor, enfatizando que “as técnicas que usamos são realizadas de uma forma que proporciona um pós-operatório mais fácil e confortável” para o doente, ainda que desenvolvidas com apoio das tecnologias de imagem, com menos dor e melhores efeitos cosméticos para os doentes já que são realizadas por pequenas incisões. Sublinhe-se ainda que, de acordo com Javier Gallego, “é possível avançar-se, em cerca de 90% dos casos, para uma alternativa minimamente invasiva” no combate a algumas das principais patologias da nossa sociedade. Indissociável destes mesmos procedimentos está, no entanto, a implementação de um específico conjunto de instrumentos e novas tecnologias (nomeadamente de vídeo 3D, angiografia e a utilização de modernas Salas operatórias híbridas), tendo a UMICS vindo a assumir-se, no nosso país, enquanto agente pioneiro na adoção de técnicas minimamente invasivas em universos como a Cirurgia Cardiotorácica.

Mais, todavia, do que tentar aconselhar ou formar elementos da comunidade médica para a utilização destas técnicas, tem sido outra missão da Unidade assegurar o acesso da população de diferentes regiões do país a uma tipologia de tratamentos que se afigura célere, eficaz e segura. Para tal efeito, a UMICS tem vindo a munir-se de um corpo clínico em constante crescimento que, paralelamente a médicos das especialidades supra-mencionadas residentes nas diferentes regiões do país, engloba o empenho de uma equipa de anestesistas, enfermeiros e técnicos de cardio pneumologia. Não deverá, posto isto, constituir surpresa que a UMICS consiga assegurar uma resposta rápida às diferentes necessidades e solicitações, mediante um serviço de reconhecida excelência.

Em constante relação com a formação, os profissionais da UMICS estão envolvidos na formação de jovens cirurgiões que querem aprender as técnicas minimamente invasivas, sendo responsáveis por muitas das ações de formação realizadas no nosso país e no estrangeiro. Um dos seus objetivos, efetivamente, é formar profissionais extremamente capacitados e que utilizem todos os recursos tecnológicos possíveis para fornecer um tratamento humanizado, individualizado, eficiente e que devolva a qualidade de vida ao paciente.

Também “fundamental” é a relação internacional, refere Javier Gallego, que é membro da ISMICS (International Society for Minimally Invasive Cardiothoracic Surgery) desde 2015, o que permite que “estejamos sempre em sintonia com o que há de mais novo em técnicas cirúrgicas, especializações e exigências que fazem parte do dia-a-dia dos maiores centros de referência especializados do mundo em Cirurgia Cardiotorácica”. Assim, “da mesma forma que somos chamados a colaborar em casos que apresentam algumas peculiaridades noutros países, solicitamos a colaboração de colegas de profissão quando temos algum caso que requeira uma abordagem diferente”. Isto garante, de resto, uma qualidade de atendimento internacional aos pacientes em Portugal.


Cardiologia de Intervenção

Se existe um domínio da Medicina que se enquadra de sobremodo no contexto das metodologias de tratamento minimamente invasivas, tal corresponderá à Cardiologia de Intervenção. Nesse sentido, e como esclarece o coordenador da UMICS, esta consiste “no tratamento de patologias cardiovasculares por cateteres, ou seja, sem a necessidade da realização de cirurgias”, correspondendo a uma área “que tem sentido uma grande evolução”. A título exemplificativo, Javier Gallego faz alusão ao tratamento da doença coronária que, nas situações clínicas de maior gravidade, poderá dar azo ao enfarte agudo do miocárdio através da revascularização coronária percutânea (implantação de stents), “uma técnica com mais de 30 anos e que está mais do que estudada”, com benefícios também eles comprovados.

Mas outro dos tratamentos ministrados pela equipa de especialistas da Unidade Minimamente Invasiva consiste na Implantação Valvular Aórtica Transcateter (TAVI), como resposta à estenose aórtica. Tal como indicado pelo seu nome, este consiste num procedimento mediante o qual é implantada por via percutânea e, desde logo, sem a necessidade de abrir o tórax uma válvula artificial em posição aórtica. Tamanho progresso corresponde, no entender do nosso interlocutor, “provavelmente à maior revolução sentida ao nível da Cardiologia no século XXI”, na medida em que “estas técnicas percutâneas permitem tratar também outro tipo de válvulas, como a mitral”, proporcionando uma maior eficácia e conforto no combate a problemas desta natureza.


Cirurgia Cardíaca

Recorrendo aos mais recentes avanços tecnológicos, também as intervenções cirúrgicas que procuram atender a patologias que afetam o coração e as válvulas cardíacas têm vindo a rimar com a adoção de abordagens cada vez menos agressivas para o doente. Digna de referência, neste âmbito, é a cirurgia minimamente invasiva da válvula mitral: este é um “método em que, no lugar de abrirmos o esterno de forma completa, fazemos uma pequena incisão lateral, a partir da qual introduzimos uma câmara de vídeo e fazemos a operação ao coração de forma endoscópica”, esclarece o especialista, numa alusão a um procedimento ainda relativamente inédito em Portugal.

Outra das técnicas minimamente invasivas que a UMICS assegura prende-se, por seu turno, com a cirurgia da válvula aórtica, que pode ser realizada por miniesternotomia, dispensando a abertura de todo o esterno, tendo em vista a substituição da válvula aórtica por uma prótese que, dependendo das características do paciente, poderá ser de natureza biológica ou mecânica.

Importa referir que os impactos físicos e psicológicos que um paciente enfrenta em cirurgias tradicionais podem ser reduzidos ou eliminados. Estudos comprovam, por sua vez, que os pacientes aderem mais a tratamentos quando percebem as vantagens. Nesse sentido, profissionais capacitados e equipamentos e técnicas cirúrgicas mais objetivas trabalham em conjunto para oferecer resultados iguais ou superiores aos disponibilizados por técnicas convencionais. Outro ponto que nem sempre é lembrado quando discutimos terapias minimamente invasivas é que estas são indicadas para pacientes que possuem riscos muito altos, muitas vezes causados por associação a outras doenças, sendo preferível usar apenas medicamentos para atenuar sintomas. Para estes pacientes, o uso de procedimentos minimamente invasivos é fundamental.

Na área da cirurgia das cardiopatias congénitas isto é a cirurgia ao coração em idade pediátrica – a equipa da UMICS conta com especialistas para operar as crianças por incisões pequenas que vão garantir uma vida normal, melhores resultados estéticos e o regresso rápido a casa.


Cirurgia Torácica

“A Cirurgia Cardiotorácica assistiu, desde 2010, a um enorme crescimento na área dos procedimentos minima- mente invasivos”, constata Javier Gallego, antes de enumerar progressos co- mo a Video-Assisted Thoracoscopic Surgery (VATS) ou as intervenções vídeo-assistidas de porta única (Uniportal VATS), uma técnica introduzida em Portugal pelos especialistas da UMICS, e que o Cirurgião do Tórax Diego González Rivas tem vindo a divulgar pelo mundo inteiro, que acarreta “vantagens evidentes no tratamento do cancro do pulmão”. Efetivamente, quando diagnosticada a tempo, esta é uma patologia que pode ser superada “com uma taxa de sobrevivência de 85% ao fim de cinco anos”.

Um fator que importa levar em consideração é o modo como os mais recentes avanços técnicos têm permitido contornar as tipologias de tratamento mais agressivas que, paralelamente à abertura de todo o tórax, pressupõem prolongados períodos de recuperação. Não são raros os casos em que, tal como enfatiza o cirurgião, o paciente tenha de “ficar três a quatro meses sem conseguir levantar o braço”, ao passo que “com as técnicas minimamente invasivas, ele poderá regressar a casa ao fim de dois ou três dias” com uma recuperação e regresso às atividades profissionais muito mais rápida. Estes procedimentos passam, muitas vezes, pela “lobectomia”, que consiste em “retirar a parte do pulmão em que está localizado o cancro”. Todavia, técnicas como a segmentectomia – que consiste em “ressecar uma parte menor do pulmão”, possibilitando “mais capacidade” ao aparelho respiratório e, consequentemente, “uma melhor qualidade de vida” – têm vindo também a crescer. Em alguns casos, o tratamento é 100% cirúrgico, dispensando o uso da quimioterapia ou radioterapia.

Ainda no âmbito das intervenções torácicas, os especialistas da UMICS encontram-se devidamente formados para proceder à cirurgia do Pectus Excavatum, mediante a qual se procura corrigir uma deformidade torácica – provocada por uma depressão do esterno na parede anterior do tórax – por intermédio de uma prótese, colocada “através de duas incisões muito pequenas”, à medida que se contornam os “pesadíssimos” tratamentos de outrora.

Amplo por natureza, o domínio da Cirurgia Torácica proporciona, por outro lado, uma resposta eficaz a “um problema estético que condiciona completamente a qualidade de vida” e que “afeta entre a 3 a 4% da população”: a Hiperidrose. Rápido e com efeitos definitivos, o tratamento para esta patologia – que se consubstancia no excesso de transpiração nas mãos, axilas ou pés – pressupõe uma “pequena cirurgia feita por vídeo através de duas incisões muito pequeninas, pelas quais entramos por debaixo das axilas e colocamos dois clipes no nervo simpático”, elucida Javier Gallego, em alusão a um tratamento que, por norma, não excede os dez minutos.


Cirurgia Vascular

Nas últimas décadas, o recurso a técnicas minimamente invasivas no tratamento da patologia vascular periférica revolucionou a especialidade de Angiologia e Cirurgia Vascular. Os Cirurgiões Vasculares da UMICS estão entre os pioneiros e mais experientes do país na aplicação desta tecnologia. Mais concretamente, a evolução da Medicina em parceria com a biotecnologia permite encarar atualmente o tratamento da doença das artérias, veias e linfáticos de forma minimamente invasiva.

A punção percutânea “picada através da pele” permite o acesso arterial para o tratamento de lesões obstrutivas das carótidas, das artérias renais e das artérias dos membros inferiores (angioplastia com ou sem implante de stents) ou para o tratamento da doença aneurismática, como o aneurisma da aorta abdominal (EVARExclusão Endovascular do Aneurisma da Aorta Abdominal), obviando “a necessidade de abrir a barriga ou o abdómen” para o implante de uma prótese cirúrgica. No que se refere à patologia aórtica complexa, a abordagem endovascular minimamente invasiva é atualmente a primeira opção nos centros internacionais de referência.

A cirurgia da insuficiência venosa – ou seja, das varizes dos membros inferiores – é um tratamento realizado, mais uma vez, por punção percutânea através de fibras de radiofrequência ou laser, obviando a necessidade de se efetuar incisões nas virilhas e a avulsão das veias safenas. O pós-operatório e o resultado cosmético são claras vantagens relativamente aos procedimentos cirúrgicos clássicos.


Leia a entrevista na íntegra dada ao suplemento "Perspetivas" do jornal Público no passado dia 13 de Setembro.

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