CIRURGIA CARDÍACA MINIMAMENTE INVASIVA: INOVAÇÃO AO SERVIÇO DOS NOSSOS DOENTES

Pretendemos realizar uma abordagem menos traumática, com incisões mais pequenas, menor manipulação do coração, menor hemodiluição e maior aporte de oxigénio para os tecidos, o que chamamos cirurgia de mínimo impacto para o doente.

A cirurgia cardíaca está, hoje em dia, em contínua mudança para procurar novas técnicas cirúrgicas minimamente invasivas que permitem que os pacientes tenham alta mais rapidamente, assim como uma recu- peração mais acelerada, quando comparadas com as cirurgias tradicionais. Depois de várias décadas a realizar uma cirurgia cardíaca por esternotomia mediana com excelentes resulta- dos, estamos a assistir a um fenómeno a nível mundial em que os procedimentos realizados tentam evitar esta abordagem cirúrgica para melhorar a qualidade de vida dos doentes no pós-operatório e ainda melhorar os resultados das técnicas realizadas.

Pretendemos realizar uma abordagem menos traumática, com incisões mais pequenas, menor manipulação do coração, menor hemodiluição e maior aporte de oxigénio para os tecidos, o que chamamos cirurgia de mínimo impacto para o doente.

Para isto, introduzimos no nosso bloco operatório sistemas de vídeo de alta definição, novos instrumentos cirúrgicos, melhores cardioplegias para proteção miocárdica, novos estabilizadores do coração para cirurgia sem CEC, novos afastadores, como os soft tissue retractors, e novos separadores costais mais pequenos e com características necessárias para realizar estas novas técnicas cirúrgicas.

A reparação da válvula mitral que hoje conhecemos foi desenvolvida a partir de 1970 por Alain Carpentier. Os princípios básicos da reparação da válvula mitral foram bem definidos nessa altura e ainda hoje são usadas técnicas de reparação semelhante. Estas técnicas tem sido implantadas com altas taxas de sucesso a longo prazo.

Em 1992, o grupo de Leipzig, liderado por Friederich Mohr, iniciou a cirurgia valvular mitral minimamente invasiva por mini-toracotomia lateral direita, técnica que tem vindo a crescer em todo o mundo. Em países como a Alemanha, a abordagem mini-invasiva é realizada em metade dos doentes submetidos a cirurgia valvular mitral. No nosso Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital de Santa Maria, dirigido pelo Prof. Ângelo Nobre, desde abril de 2014, a maior parte dos doentes com doença mitral isolada foram operados com esta técnica minimamente invasiva, tendo uma taxa de reparação mitral de 95%, com todos os do- entes a apresentarem insuficiência mitral inexistente ou ligeira no ecocardiograma transesofágico pós-reparação.

Os tumores cardíacos, como os mixomas localizados na aurícula esquerda mais frequentemente, podem ser ressecados por abordagens minimamente invasivas e os doentes usufruírem das vantagens da técnica.

No tratamento da estenose aórtica, existem técnicas inovadoras, com a possibilidade de implantar válvulas colocadas por cateter, TAVI, ou cirurgias minimamente invasivas por mini-esternotomia, o que também tem claras vantagens para os pacientes. As novas válvulas aórticas rapid deployment combinam a tecnologia das válvulas percutâneas com as técnicas cirúrgicas, tendo como objetivo reduzir ainda mais os tempos de clampagem da aorta e de CEC e facilitando as abordagens minimamente invasivas para substituição da válvula aórtica.

Na cirurgia coronária houve uma grande mudança, há 10 anos, quando a cirurgia de revascularização coronária começou a ser realizada de forma generalizada, sem a necessidade de circulação extracorporal, OPCAB, sendo hoje realizada em 100% dos doentes no nosso Serviço. Conseguimos melhorar ainda mais esta evolução com abordagens minimamente invasivas por minitoracotomia esquerda pelo 5.o espaço intercostal (MIDCAB). Desta forma, evitamos a esternotomia mediana e abre um novo espaço para a revascularização do miocárdio híbrida, em que a cirurgia realiza o melhor by-pass e mais duradouro da artéria mamária interna esquerda para a DA e a cardiologia de intervenção pode implantar stents em outros territórios. Tempos de internamento de 72 horas para doentes submetidos a revascularização cirúrgica e PTCI híbrida simultânea demonstram as vantagens desta técnica pioneira em Portugal.

No tratamento da fibrilhação auricular, a cirurgia tem hoje um papel importante. No tratamento da FA concomitante com outras patologias como a doença valvular mitral, podemos realizar a crioablação por mini-toracotomia ao tempo que reparamos a válvula mitral. No tratamento da FA isolada, o tratamento por toracoscopia pode ser uma boa alternativa às técnicas por cateter para a FA permanente ou em doentes em que o tratamento por cateter não teve sucesso.


O encerramento do apêndice auricular esquerdo pode ser também realizado por videotoracoscopia, numa intervenção simples e com uma rápida recuperação para o doente. Neste contexto de novas técnicas cirúrgicas, a cirurgia cardíaca assume hoje um papel inovador e oferece aos doentes novas terapêuticas menos agressivas e com tempos de recuperação mais rápidos, com menos dor no pós-operatório e com claras vantagens em relação às técnicas clássicas.

Descarregue e leia o artigo completo clicando neste link. LC9-Intervencao-inovadora-chln.pdf